De Arapiraca para Célia
Filha de uma Família importante, a menina Célia deixa a sua terra para concluir os estudos, formando-se médica. Especializou-se na medicina pediátrica, reflexo dos sonhos em cuidar das crianças que via morrer com a mesma brevidade que tem o ciclo vital das moscas. Aliás, insetos que faziam parte, àquela época, do dia a dia da sua cidade amada, a capital do fumo, a Terra de Manoel André, e ainda; a Capital do Agreste, Arapiraca.
De volta em 1984, Já em seu consultório, começa a dar sinais de seu inconsciente Dom; cuidar das Crianças que insistiam em morrer antes do primeiro ano de seus aniversários, justamente, por falta de políticas públicas que só existiam em seus sonhos, até então.
Seu Pai? Bravejava quando no consultório da filha, ela não se encontrava.
Em entrevistas oriundas da minha curiosidade, soube que àquela época, a Drª Célia não estaria no consultório, pois estava atendendo as pessoas que não tinham assistência, em baixo de um pé de algaroba, ou sob a sombra de um pé de Arapiraca, na Zona Rural do seu município.
Era assim; Drª Ceci, sua grande parceira parteira, trazia ao mundo aquelas vidas, e a Drª Célia fazia de tudo para que elas sobrevivessem à difteria causada por um sistema enriquecedor das desigualdades naquela cultura fumageira. E quem sofria? A população mais carente, que era estupidamente a Grandiosa Maioria.
Arapiraca! Capitá do fumo da América Latina. A riqueza gerada contracenava com a vida de sua população, enclausurada nas necessidades impostas pela falta das “basicidades”(coisas básicas) como água potável, moradias e coisinhas assim.
Iam aquela gente, “caminhando sem lenço e sem documento”, por entre Tantas riquezas e desigualdades.
Em 1997, inicia-se a realidade à qual vivemos hoje. O sonho daquela Arapiraca sem calçadas, sem água, sem saúde, sem escolas, uma cidade sem nada, e por isso mesmo, tudo por fazer; assume a Prefeita Célia os destinos de uma terra em crise e com sua virtude(a cultura do fumo) em decadência.
Hoje, 19 anos passados, vivemos com muitos problemas, porém, não os mesmos.
Vivemos problemas inerentes a um Município, que nesse espaço de tempo, cresceu só a sua população, o equivalente a uma cidade como Palmeira dos Índios, com seus 70.000 mil habitantes.
Saímos de uma população fixa e flutuante de 172.639 para 231.053 pessoas,
censo realizado em 2015. Hoje, são mais 60.000(sessenta mil) pessoas que vivem excesso de trânsito; antes não existiam ruas calçadas. O que se tinha? trilhas para os animais; hoje pode faltar médicos. Antes faltava saúde. Hoje, Falta professores e escolas. Antes, faltava educação.
Enfim, estamos inseridos nas realidades de cidades grandes, com suas virtudes, que neste caso, antes era só a virtude da monocultura agrícola; hoje, não temos conscientemente, noção do tamanho do nosso Espirito, do que é viver e ser Arapiraca, eis então a virtude.
Contudo, para um bom observador, Arapiraca deixou de ser uma cidade para se tornar alma de um Povo. Uma alma viva que anda pra frente.
Se assim for, a Dra se retirar da vida Política, devemos lhe agradecer a alma que temos hoje. Esse espirito de querermos sempre mais; a consciência dos nossos direitos, mesmo esquecendo um pouco dos deveres.
A quem venha trabalhar para os nossos direitos, tenha como norte, a responsabilidade social que conhecemos hoje, como obrigação de qualquer gestor ou gestora das necessidades do nosso desenvolvimento, que na atual conjuntura, pressupõe diminuir a desigualdade social e promover a Cidadania com “C” Maiúsculo, como àquela que se iniciou em 1997.
Se for para o bem de Arapiraca, que digas não. Mas se não o for, que seja o que Deus quiser. Pensemos nisso, e você também, Drª Célia.
E como diria o “Puetista Nordestinado”; A verdadeira verdade é aquela que não se diz; é, simplesmente, aquela que se vive. Uma hora, estamos certos, outra hora, enganados, mas continuará a nossa Verdade, sempre.
Contudo, Drª Célia, Arapiraca lhe agradece muito a dedicação!