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A desconstituição que a Constituição permitiu!

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Imagem da capa

Em uma noite comum, à minha frente, uma tela vagando na internet.
Cheguei a um vídeo postado por um grande irmão, o meu primo Iramaraí, também, um grande promotor das causas sociais deste Nordeste, deste País.
     Espantado, Emocionei-me, e relembrei o momento em que foi gravado aquele vídeo que eu via, escutava e me tremia.
Era setembro de 1987, no Congresso Nacional lotado de jornalistas, deputados e senadores constituintes, quando testemunhamos um discurso histórico.
Foram palavras que pulsavam e pulsam até os dias de hoje, uma consciência coletiva, amor à Terra, e paz, mais muita paz  nas relações entre os seres humanos. Contudo, traduzia uma “digna indignação” aquelas sílabas, ante as desigualdades, desrespeito, e uma impiedosa  criminalização dos ritos das sociedades que não “praticavam a nossa prática”.
     A cena comove pela ingenuidade sincera de quem acredita no bem comum, e que ao mesmo tempo escancara a dantesca diferença de um sistema anacrônico que reina desde os idos de 1500 da era cristã, e que oprime, saqueia, como também, desvirtua as crenças  dos mais fracos e diferentes.
     32 anos depois, as palavras ditas se empregam hoje, ainda. Não com a mesma força, mais sim, com uma poderosa energia capaz de tornar a segregação um instrumento louvável e necessário para o esclarecimento dos direitos dos povos originários.
     Com um olhar que lacrimejava desencanto, e com a atitude de quem pintava a esperança de luto,  um líder indígena, ambientalista, Filósofo, poeta e escritor brasileiro,  plantou-se àquela tribuna. Era Ailton Krenake, em plena Assembleia Nacional Constituinte, onde proclamou a plenitude da sua agonia.

A seguir, um trecho das palavras de Ailton Krenak, um dos mais fieis dos brasileiros, que norteia a luta contra a injustiça que sofre os povos originários e todos nós, os seus descendentes, o povo da terra Brasilis;

     “O povo indígena tem um jeito de pensar, de viver, que não coloca em risco sequer a existência dos animais que vivem em sua volta, quanto mais dos outros seres humanos. E hoje nós somos alvos de uma agressão que pretende atingir na essência a nossa fé, a nossa confiança de que ainda existe dignidade, de que ainda é possível construir uma sociedade que sabe respeitar os mais fracos, que sabe respeitar aqueles que não têm o dinheiro pra fazer uma campanha incessante de difamação, que saiba respeitar um povo que sempre viveu a revelia de todas as riquezas. Um povo que habita casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão, não deve ser identificado de jeito nenhum como um povo que é inimigo dos interesses do Brasil, e que coloca em risco qualquer desenvolvimento. O povo indígena tem regado com sangue cada hectare dos 8 milhões de quilômetros quadrados do Brasil. E os senhores são testemunhas disso.”
     O chefe indígena, o produtor gráfico, o jornalista e escritor brasileiro, Ailton Krenak, cravou na história, há 32 anos, o que acontece hoje; a crucificação dos direitos e garantias à cidadania de cada um de nó brasileiros do baixo clero, é claro.
Com os seus gestos, e a entonação que carr
ega, em sua sonoridade, a sofrida condição de ser feliz do povo indígena, do povo  brasileiro mais fraco, ele personificou o poder das poderosas pilastras que  sustentarão os próximos anos.
     Foi um momento mágico, daquela juventude, que eu também vivi, e com um grupo de fraternos amigos-irmãos e fraternas amigas-irmãs. Era o tempo da Constituição Cidadã, que criava um novo Estado Democrático de Direito.
Contudo, o vídeo que assistia acabou, voltei aos dias de hoje, e constatei o que vivo agora; nada mais nada menos do que a desconstituição daquela Constituição.
Constituição da nossa sofrida e dilapidada “Nação” brasileira.