Filme foi exibido na última sexta-feira, 25, no Festival Revoada de Cinema, para moradores do Benedito Bentes
Em cartaz nas salas de cinema de todo Brasil, o filme Serial Kelly foi a grande atração de sexta-feira, 25, no Festival Revoada de Cinema das Periferias de Maceió, que está ocorrendo de graça para toda população, na Praça Padre Cícero, bairro Benedito Bentes. O filme é do cineasta alagoano, René Guerra, que se fez presente no Festival e falou sobre seu primeiro longa-metragem.
Serial Kelly teve boa parte de sua ambientação em terras alagoanas e conta a história de Kelly, uma cantora de forró que é a primeira serial Killer feminina do Brasil. O filme marca duas estreias: a da cantora Gaby Amarantos como protagonista e de René Guerra como diretor de seu primeiro longa-metragem. O roteiro de serial Kelly é assinado também por Marcelo Caetano.
Em entrevista para o Festival Revoada de Cinema, René Guerra contou alguns detalhes da gravação e falou sobre o quanto é importante levar o cinema e filmes nacionais para todas as classes sociais, sejam elas o público com o poder aquisitivo de ir às salas de cinema, quanto às classes menos favorecidas que normalmente não possuem acesso ao cinema.
“O Festival Revoada faz com que a cultura audiovisual chegue em lugares que são considerados periféricos, mas que também produz cultura. Principalmente música. São artistas, mestres do guerreiro, cancioneiros, repentistas, todos esses artistas. Só que o audiovisual precisa, de uma certa forma, de uma estrutura para ser projetado e isso faz parte de um trabalho contínuo de educação. Do audiovisual como possibilidade de educar. Então, o Festival Revoada para mim, é o futuro e o início de uma grande transformação, para fazer com que os filmes tenham um alcance, principalmente dos filmes brasileiros”, explicou René Guerra.
“Os filmes de outros países, os filmes estrangeiros, a gente sabe que esses têm bilheteria. Mas a gente precisa olhar para a gente mesmo. Entender como está essa imagem de nós brasileiros. Essa imagem fragmentada, como está espatifado esse espelho. Em compensação, a gente precisa também do cinema pagante, pois é esse cinema que vai fazer com que a gente de alguma forma, dê uma resposta para a sociedade e que consiga, através das salas de cinema, resgatar esse ritual do cinema. Além de conseguir alguns patrocínios para fazer filmes experimentais. Um filme de grande alcance gera possibilidade de várias experimentações”, completou o diretor de cinema, reforçando que as experimentações são sobretudo fomentadas pelas leis de incentivo a cultura. “Sem elas, os filmes não acontecerão e os conteúdos serão dirigidos para outro tipo de finalidade: ou para o turismo, ou para o capital…; mas nunca para trazer reflexões, críticas e experimentações”.
O cineasta também falou sobre o quanto foi importante gravar Serial Kelly em Alagoas e com boa parte do elenco ser de Maceió. “Passei 17 anos fora e voltei para Alagoas porque precisava voltar para a minha terra. Eu tinha uma sensação de, sabe quando a gente sente uma fome ancestral de cuscuz? De Sururu? Que o alimento que estava sendo consumindo já não estava alimentando artisticamente falando. Eu precisava voltar”.
De acordo com René Guerra, o filme teve locação em 17 municípios de Alagoas, entre elas o bairro de Maceió, Fernão Velho. “A Ane Oliva (atriz que faz o papel de irmã da Kelly no filme) é de Fernão Velho. Bairro que tem um histórico cultural muito grande e que foi set de gravação do filme. Durante as gravações, a comunidade parou e foi muito solícita conosco. As pessoas estavam muito presentes e torcendo muito pelo filme”, comentou.
René fez questão de agradecer e ressaltar o trabalho dos atores e atrizes alagoanos que fazem parte do elenco do Serial Kelly.
“Aline Martha, Igor de Araújo, Ivana Iza, Ane Oliva, e tantos outros. Os artistas nordestinos também”.
“A gente deslocar e fazer uma produção nacional, desse porte, fora do eixo Rio-São Paulo é também político. São novos rostos, novas paisagens. É se encontrar com o Brasil profundo, um Brasil que não é construído em uma cidade cenográfica. A gente chega nas pessoas de verdade, nas pessoas que vivem a arte e a cultura de forma tão pungente e tão urgente, também”.
Por fim, o cineasta deixou um recado para os jovens que sonham em fazer cinema, trabalhar com o audiovisual. “Façam seus filmes. Hoje a gente consegue fazer filme com celular. O que a gente precisa é de boas ideias e, às vezes, as restrições e limitações são decisivas para que as boas ideias nasçam. Se arrisque, está todo mundo se arriscando com as novas tecnologias. A internet tá aí para divulgar, pois o importante é chegar nas pessoas”, finalizou.
Sidinéia Tavares/Assessoria
Fotos: Renata Baracho