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Que Páscoa haveremos de festejar?
A Páscoa dos judeus; A passagem da escravidão no Egito para uma terra espaçosa e banhada por leite e mel. Foi a passagem da prisão para a liberdade em uma terra prometida por Deus.
A Páscoa dos cristãos, homens de boa vontade; a passagem de Cristo da escura prisão da morte para a clara liberdade da vida. A ressurreição!
No Brasil atual, a palavra liberdade anda meio defasada, desvirtuada e camuflada.
Estamos vivendo, sim, um outro momento, uma outra estória, um conto de fardas.
“Deus acima de todos”, como pode? Se o próprio Deus deixa sua transcendência, desce e se coloca no meio dos oprimidos para ajudá-los a fazer a passagem (pessach=páscoa) da opressão para a libertação; “Eu vi a opressão de meu povo, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci pra libertá-los e faze-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa” (Ex 3,7-8).
Esse “Deus acima de todos”, que está na moda hoje em dia, renega a entrega do próprio Deus que se fez homem através do Cristo, para viver e conviver, carnalmente, a condição humana que nos foi entregue por sua própria divindade.
Cristo, o que ressuscitou dos mortos, libertou-nos deste Deus pesado, rancoroso e vingativo, pregado pelos fardados e paramentados sacerdotes naquela época, há mais de dois mil anos, o que parece se repetir atualmente.
A Páscoa dos cristãos de boa vontade é a relembrança do Deus bondoso, amoroso, que perdoa e que se fez carne igual a nós, para acreditarmos e conceber o que representa a sua “justa justiça ” de verdade.
O Cristo entregou-se à cruz, justamente por isso, por nos participar da boa nova, do Deus pai que ama a todos como a si mesmo, que se fez homem para nos falar de sua criação do próprio homem, e mostrar que somos a sua imagem e devemos viver a sua semelhança.
Eis o mistério da Fé, ou pelo menos deveria ser. Para alguns muitos, mas não a maioria, a lei voltou a ser a de Hamurabi, (1750 a.C.): Olho por Olho, Dente por Dente.
As mortes provocadas por pura insanidade, refletem uma alma que padece de boa saúde. Ela é doentia e mesquinha. Nada de Deus até aqui.
As inúmeras desconsiderações à condição humana, com a retirada de direitos plausíveis dos mais velhos, das mulheres, Índio e Afrodescendentes, de trabalhadores que parecem não poder viver para gozar de uma aposentadoria, já combalida. Claro, é a combalida aposentadoria de 70% dos impuros mortais trabalhadores brasileiros, que recebem um salário mínimo. Os fardados, políticos e magistrados, Óbvio, não estão nessa lista de infelizes. Prédios que tombam no Rio de Janeiro, construídos por forças milicianas antes ocultadas, hoje, parece ser vitrine da virtude.
Nem todos os fardados perecem.
Contudo, nesse conto de fardas, que Páscoa haveremos de festejar?
Editorial/Jornal de Arapiraca/Extralidades
Por Carlo Bandeira